Dia da Mulher Migrante na Cidade Autônoma de Buenos Aires

Memória e justiça para Marcelina Meneses e seu filho Joshua!

Em 10 de janeiro de 2001, aproximadamente às 9 horas, em um dia nublado, chuvoso, quente e superlotado no trem Roca, a boliviana, mãe e migrante Marcelina Meneses foi assassinada junto com seu filho de 10 meses, Joshua Alejandro Torres, como resultado de um ato de xenofobia e racismo por um grupo de homens violentos.

Marcelina, natural de Cochabamba, tinha 24 anos quando escolheu a Argentina como seu destino migratório em 1996. Marcelina teve que se mudar para outro país para trabalhar a fim de pagar a operação de quadril de sua filha Jimena, que havia sido deixada para trás na Bolívia. Marcelina trabalhava como balconista em um supermercado, e seu marido, Froilán Torres, era pedreiro. Eles tinham outro filho, Jonathan David, de 3 anos de idade quando Marcelina foi assassinada.

“Boliviana de merda! Você não olha quando anda!”. A mulher ficou em silêncio. Jiménez tentou defendê-la: “Ei, tenha mais cuidado, ela é uma senhora com um bebê”. Um segundo passageiro o repreendeu: “O que você está defendendo, se são esses bolivianos que vêm tirar nossos empregos. Assim como os paraguaios e peruanos”. Jiménez continuou argumentando. “Pare com isso, irmão, é isso que os políticos estão vendendo. Somos todos latino-americanos”, disse ele. E eles gritaram para ele: “O que você é, anti-pátria?

A única testemunha que depôs no caso, Julio César Jiménez, funcionário de uma cooperativa, disse que ninguém deu assento a Marcelina durante toda a viagem. Jiménez testemunhou que, perto da estação de Avellaneda, destino de Marcelina, antes da curva que passa em frente ao estádio do Independiente, Marcelina se moveu para ir para a saída e, nesse movimento, roçou o ombro de um passageiro de cerca de 65 anos, vestindo um casaco marrom, que gritou para ela: “Boliviana de merda! Você não olha quando anda! A mulher ficou em silêncio.  Outras pessoas se juntaram a ele. Houve mais insultos, em uma conexão imediata e completamente descontrolada, esse grupo de homens, que não se conheciam até aquele momento, jogou Marcelina e seu filho pequeno do trem em movimento. A testemunha disse que o trem parou em seguida. Ele caminhou cem metros em direção ao local onde os corpos foram deixados.

A empresa ferroviária negou o ocorrido, alegando que Marcelina estava andando irresponsavelmente nos trilhos do trem e foi “roçada” pelo trem e caiu morta junto com seu filho. O trem Roca pertencia à empresa privada Transportes Metropolitano Roca, do consórcio argentino Metropolitano S.A., de propriedade do questionado empresário Sergio Taselli, que obteve a concessão desde as privatizações de 1994, no governo de Carlos Menem, até sua dissolução em 22 de maio de 2007. Ninguém se apresentou como testemunha, exceto Júlio César Jiménez, que recebeu propostas de suborno por parte da empresa para retirar seu depoimento, resistindo a ameaças e pressões. Algum tempo depois, o testemunho de Jiménez foi desqualificado pelo promotor do caso, Andrés Devoto, do Departamento Judicial de Lomas de Zamora UFI Nº 1, e o caso foi encerrado, permanecendo impune.

Em 2012, a Legislatura de Buenos Aires sancionou o dia 10 de janeiro como o Dia da Mulher Migrante na Cidade Autônoma de Buenos Aires, uma data estabelecida pela Lei 4409/12. Mas foi realmente a luta dos e das migrantes liderada pela família de Marcelina, especialmente a de sua cunhada Reina Torres e outras mulheres migrantes, que manteve a memória da luta por justiça para Marcelina, Joshua e os migrantes vítimas da xenofobia.

Exigimos justiça para Marcelina e Joshua, bem como para todas as mulheres migrantes e dissidentes migrantes que foram vítimas de atos xenófobos, racistas e violentos, nos quais os feminicídios estão aumentando. Expressamos que Marcelina foi assassinada por ser uma migrante estrangeira, por ter uma identidade indígena, por ser pobre, por sua cor de pele, seus traços andinos, por ser uma “outra” em uma sociedade que se define como branca, de classe média, de ascendência europeia.

Abraçamos as mulheres do mundo, que lutam contra o racismo, a discriminação, contra a justiça patriarcal e em defesa do direito de migrar com plenos direitos.

Conheça o Centro Integral da Mulher Marcelina Meneses: https://www.centromarcelina.com.ar/

Justiça para Marcelina e seu pequeno filho Joshua!

Chega de mortes por racismo e xenofobia!

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